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Quando minha analista diz que o sintoma nos acha em qualquer lugar, eu tive a comprovação dias atrás.
Fim de domingo, esperando o delivery com o jantar, decidi ver um filme que julguei “bobo” pra não pensar em muita coisa. Queria um romance que me tirasse a cabeça das mazelas do mundo e escolhi “Como eu era antes de você”. Eu já sabia a premissa, eu já sabia o que aconteceria, eu só queria desligar o cérebro por duas horas.
O problema foi quando a protagonista começa a contar ao amado o porquê dela não ter seguido o sonho de trabalhar com moda. Envolvia vida financeira, familiar, e tudo aquilo que costuma ficar entre um sonho, uma pessoa e a vida real. E nesse momento, eu senti que levei um soco na barriga de forma completamente despreparada.
Eu gosto muito de moda desde criança, eu era daquelas que pegavam retalhos das coisas da avó e criava amarrações que se transformavam em vestidos, saias, cangas e mantos. Eu aprendi a costurar antes dos dez anos pontos simples, desenhava modelos de vestidos em todos os cadernos, e quando entrei na adolescência, passei no curso de técnico de vestuário, onde eu aprenderia a ser modelista.
Um ano e meio depois, percebi que era uma área muito elitizada, e que para alguém com um histórico familiar como o meu, seria impossível viver disso, já que não tinha nenhum respaldo financeiro. Guardei o sonho na gaveta dos “e se” e continuei minha vida.
Com o passar dos anos, eu não tinha percebido, mas o meu carinho com a forma que eu me vestia foi diminuindo, isso também tinha relação a eu ter engordado alguns quilos no passar dos anos, e fui percebendo que eu me afastava cada vez mais daquilo que eu via como o sonho da minha vida.
Peguei fotos antigas, vi que fazia combinações interessantes que poderiam ser usadas até hoje, vi que eu ousava muito mais. Haviam coletes, saias e sapatos com mais informações, blusas com cortes diferentes, acessórios que eu gostaria de não ter jogado fora. Vi que eu usava batom vermelho em qualquer ocasião, roupas de festa misturadas com alfaiataria, lenços mil.
Eu não estava preparada para esse soco no estômago no fim de um domingo, quando eu jurava que só derramaria algumas lágrimas por um amor que não se levaria adiante.
Eu estava ali nua encarando minha própria vida.
No fim de semana seguinte, fui enfrentar esse grande sentimento que havia acordado dentro de mim. Com os quilos a mais, eu não estava servindo nas roupas de lojas convencionais, então já havia algum tempo que eu nem tentava mais experimentar nada. Com algumas mudanças de estilo de vida, consegui perder alguns deles e finalmente voltei a servir no tamanho G da grade comum. Eu tinha esquecido o sentimento de andar por uma loja, pegar todas as peças que eu achasse interessantes (mesmo que eu não pudesse ou fosse comprá-las) mas pude levar até o provador. Me dei a oportunidade de me olhar com mais carinho, de vestir algo que não fosse calça jeans e camiseta.
De alguma forma, eu senti que ali eu estava finalmente voltando a me vestir de mim mesma.
Para ouvir
no último episódio do podcast da nossa cartinha, falei com o Cris Dias sobre o caminho contrário que ele fez: transformou a programação em hobbie.
Já no O Alvissareiro, conversamos com o psicanalista Marcos Donizetti sobre aquela frase que muitos já se depararam nos aplicativos de relacionamento “estou com a terapia em dia”.
Por hoje é só
Acho que já comentei por aqui, mas a minha vida profissional deu uma acelerada de uma forma que eu não estava esperando, então a periodicidade da cartinha anda sendo comprometida com mais frequência que eu gostaria, mas espero conseguir aparecer toda segunda feira (como sempre).
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Um beijo e até semana que vem!
Me identifiquei mto com seu texto. Sou apaixonada por moda desde criança, mas pobre desde que nasci (até hoje rs). Desde que virei mãe, em 2019, venho vivendo um eita atrás de uma putaquepariu quase que todos os dias, e isso me fez ficar mais de 10kg mais gorda e sem um pingo de paciência pra mim. Passei a tentar me cuidar no começo desse ano, quando comecei a colapsar e prejudicar não só a mim como a minha família. Larguei de mão no meio do ano. Não sou mística, mas vc me fez refletir bastante sobre minhas escolhas pra mim. Obrigada pelo puxão de orelha :)
"Me dei a oportunidade de me olhar com mais carinho, de vestir algo que não fosse calça jeans e camiseta."
Assim como o filme bateu em você, essa cartinha – e especialmente essa frase acima – bateu em mim.
A pandemia me trouxe um diagnóstico de depressão, ansiedade e burnout acompanhado de 20 kg a mais (porque eu só encontrava conforto na comida) que também me fizeram parar de olhar para mim com carinho.
Parei de comprar roupas porque ou nenhuma me servia ou eu me sentia horrível quando me olhava no espelho de um provador (já percebeu como os provadores de muitas lojas têm uma iluminação que ressalta ainda mais as imperfeições do nosso corpo e da nossa pele?), chegando ao ponto de parar de me olhar até no espelho de casa.
Inclusive, preciso comprar um espelho de corpo para a minha casa nova (terminei um relacionamento e me mudei de casa nesse processo), porque por muito tempo não quis ter um justamente pra não ter que me ver por inteiro.
Ainda tô no processo de aprender a me olhar com carinho – enquanto vou ficando firme no hábito de me alimentar bem e me exercitar –, mas confesso que é bem difícil, principalmente agora, com o verão chegando.
Sua cartinha foi uma inspiração. <3