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Eu não sou muito bom com plantas. Quando comecei a morar sozinha, decidi que queria ter algum ponto verde na casa, mas que não precisasse de tantos cuidados: decidi cultivar suculentas. Com o tempo elas foram crescendo, fui brincando de passar de um vaso para o outro, fazendo mini versões daquelas que já estavam enormes. Me mudei dessa casa e não trouxe nenhuma comigo - não consegui desenvolver nenhum afeto a elas suficiente pra me dar o trabalho do transporte de uma distância tão longa da cidade.
Anos depois tentei novamente, comprei várias plantinhas suspensas e de baixa manutenção, daquelas que todo mundo que conhece diz "é impossível matá-las", mas advinha o que aconteceu? Quase todas se foram, mas ainda tenho algumas dessas, na verdade são quatro vasos das sobreviventes que insistiram em viver - mesmo com o meu total relapso e esquecimento de seus cuidados.
Mas falando em plantas, tem algo sobre elas que eu adoro: a analogia do plantar e colher.
Mexer na terra, escolher sementes ou mudas, achar o ambiente correto e o tipo de rega, pedrinhas e mantas que vão na parte de baixo do vaso, tudo isso tem que ser muito bem pensado para dar uma vida digna a esses seres que foram apartados do seu lugar de origem. Mas tudo isso pode não dar certo e a planta que você queria tanto ver nascer e florescer, não vingar.
Plantar pode ser lido de duas formas, uma mais pessimista e outra otimista. A primeira seria as chances de mesmo com tanto esforço e carinho, aquilo que foi cultivado não ir pra frente, mesmo que você tente com todo o seu amor e esforço. A segunda é entender que as coisas levam tempo para crescer, que vai depender do quanto de atenção e dedicação você colocou naquilo, o quanto de intenção foi aplicado no que você quer ver gigante mais pra frente.
Eu sou uma pessoa que tende inicialmente ver o lado negativo das coisas, mas nesse caso, eu faço um esforço mental para abraçar o belo conceito da colheita - não tem como colher o que não foi plantado - ou - não dá para colher maçãs se você plantou ameixas.
Ultimamente ando com dificuldades de cultivar meus projetos e aquilo tudo que eu sei que se plantar hoje, eu poderia colher no futuro, mas é difícil. É difícil fazer algo hoje onde o resultado pode vir daqui um, cinco, dez anos (ou até mesmo não vir, ainda uma possibilidade), mas é importante seguir.
Tudo o que somos hoje, houve uma construção no passado, mesmo que ela tenha sido inconsciente. As escolhas feitas em relação a amizades, relacionamentos, a hora de acordar e dormir, os nutrientes do café da manhã, tudo isso pode ter mudado drasticamente quem você é hoje. Sem aquele suco de laranja geladinho, talvez sua imunidade se comportasse diferente, o término daquele namoro que acabou te impulsionando profissionalmente, aquela pessoa que você mandou uma mensagem despretensiosa em uma rede social, se transformou em uma amizade pra toda vida.
Eu estou aqui tentando plantar boas escolhas, para que no futuro, eu olhe para trás e veja como todas essas ramificações foram se construindo, como que cada frutinha em cada galho se desenvolveu, e eu aqui, debaixo dessa árvore imensa, consiga sentir que era isso mesmo que eu poderia ter feito.
Chegou por aqui
Abram Kardiner, psicanalista e psiquiatra, conta como foi ser um dos pacientes de Sigmund Freud e como isso mudou completamente a sua vida. Kardiner foi pioneiro nos estudos entre psicanálise e antropologia cultural. Obrigada, editora Quina!
Chegou por aqui o último livro lançado de Jon Fosse no Brasil, A Casa de Barcos conta nos maior estilo do autor, o fluxo de pensamentos, questões existenciais e a angústia que cresce no protagonista, tudo acontecendo em uma cidade costeira da Noruega. Obrigada, editora Fósforo!
Por hoje é só
Obrigada por chegar até aqui! Estou muito feliz em voltar a publicar a cartinha, é o lugar onde eu me sinto mais em casa na internet. Se você quiser me acompanhar nas redes sociais, é jesticacorrea em todas elas.
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Cuide-se e até semana que vem :)
Oi, Jess! Espero que esteja tudo bem por aí <3
Também venho encontrando dificuldade em plantar. O colher parece tão distante e acredito que muito disso seja pela inexatidão de quando virá. Enfim, seguimos. Como diria Hannah Montana: it's the climb.
Abraços!