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Eu tenho sérios problemas em deixar pra lá. Eu me seguro, me aperto, me encaixo e me reafirmo em coisas que pararam de fazer sentido há muito tempo, tudo por causa do medo da mudança.
Escrever a cartinha da semana passada (e ler os comentários de volta) me fez pensar em como eu, e sei que muita gente também pode ser apegada a versões de si mesma que nem existem mais.
Nisso de estar cuidando mais do meu corpo, eu não posso deixar de lembrar das mil dietas que tentei fazer, das rotinas insanas que tive durante a vida que não me permitiram cuidar mais de mim, de como eu sou apegada a um corpo que eu achava que existia, mas na verdade era só uma lembrança fabricada por mim mesma.
Acabo sendo injusta também com alguém que foi meu único conforto por muito tempo: a comida. Em momentos difíceis, era ela que estava ali com seu sabor inconfundível para me trazer o menor sinal de felicidade momentânea. Se estava bem, comia demais, se estava mal, preenchia o vazio com mais um delivery saboroso.
Não posso esquecer também de momentos onde eu olhei no espelho e fiquei com vergonha dos meus seios, avantajados demais pra idade, vulgar sendo uma palavra usada para definir uma parte do meu corpo por outrem. Hoje olho pra trás e vejo que me apeguei a palavras que não eram minhas, as tatuei no meu corpo como se fossem verdade.
O exercício de olhar pra trás é quase automático; eu vejo versões minhas onde eu fui por segundos quem eu realmente queria ser, mas também me vi me escondendo de mim mesma, com medo do que poderia aparecer.
Mas uma coisa aqui dentro mudou. Eu não enxergo mais o meu passado como a minha melhor versão, mesmo com trinta quilos a menos. Hoje vejo que tenho as ferramentas necessárias para construir um eu diferente e melhor, e isso não tem nada a ver com meu peso e sim em como eu vou começar a ser fiel a mim mesma, a essa nova Jessica que nasce todos os dias quando acordo.
Ainda tenho mil dificuldades, ainda me apego ao que não cabe mais, mas eu não quero mais me encaixar em alguém que não sou.
E como diria Belchior:
“No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais.”
Para Ouvir
Admito que comecei a gostar de Belchior tem pouco tempo (obrigada, maturidade) e esse disco mexe muito comigo:
Por hoje é só
Obrigada a você que chegou até aqui! Se quiser me contar o que achou do episódio, é só me contar nos comentários do substack, respondendo o e-mail ou nas minhas redes, que é @ jesticacorrea
Um beijo, e até semana que vem!
é bizarro olhar fotos minhas com 10kg a menos e lembrar que eu estava insatisfeita com o meu corpo, padrão é algo realmente inalcançável (quase escrevi "inaceitável" sem querer e cabe bem!).