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As vezes é difícil escrever.
Palavra atrás de palavra. Verso depois de verso. Parágrafos emaranhadas de letras, ideias e sentimentos.
Semana passada não consegui escrever. Não consegui escrever cartinha, nem roteiro, nem receita de bolo. A caneta passeava na minha mão de uma forma que segurá-la parecia antinatural. Tentei juntar os assuntos que estavam rodando na minha cabeça naquela semana, as séries que vi, o filme que assisti e não gostei tanto.
Não me conectei. Não conectei os ligamentos necessários para meu cérebro produzir frases inteiras. Rodei algoritmos, olhei pra parede, comecei um livro novo tendo outros oito abandonados pela metade. Eu não dei conta.
Morar sozinha me faz ouvir paredes.
Paro, ouço o silêncio.
Ele me diz de forma acusatória como eu posso estar tão indisponível quando tem tanta gente com tanta coisa pra fazer. Me sinto uma fraude. Troco de ambiente e a minha cabeceira diz que é normal se sentir assim, meio vazia de vez em quando. Mas eu não me sinto vazia, eu digo pra ela, eu sinto que tem tanta coisa emaranhada, que não sei separar o joio do trigo. Será que vai me sobrar só joio?
Na cozinha, pegando a caneca favorita, olho para as plantas que recebem o resto de água da chaleira do dia anterior, me olhando de uma forma que quase faz eu sentir que tenho jeito. Jeito pra que? Eu não estou quebrada.
Tem dias que só o acordar e fazer o básico é suficiente, tem outros, que acordamos com a inspiração de três leões prontos pela próxima refeição. Mas o que fazer quando estamos entre um e outro? O que fazer quando sabemos que tem algo que precisa sair e não conseguimos extrair? O que fazer quando o leão ainda é um filhote?
Parece difícil definir o que exatamente esse sentimento traz. Não sei se é ele que vai me fazer olhar para o futuro de forma mais otimista, ou quem vai me enterrar. A terra começa a fazer cócegas nos meus dedos dos pés. Seria o início do fim?
Não conseguia escrever. Voltei aqui com esse conjunto de ideias que me mostraram que pode ser que não saia perfeito, mas que é importante deixar sair. Respirei, liguei o computador e despejei tudo que queria conhecer o lado de fora.
O fim é a ilusão mais sólida que existe. A gente não sabe quando vem, e quando aparece, nos relembra que sempre existe o recomeço.
Semana chuvosa do lado de cá
Por hoje é só. Como sempre, se quiser responder essa cartinha, pode ser pelo próprio e-mail ou pela caixinha do substack aqui, ó:
Até semana que vem!
Escrever tem dessas, ne. Eu costumo dizer que, quando a gente vai recomeçar, pegar embalo de novo, é como fazer panquecas: a primeira sempre sai ruim. Não importa o quanto a massa esteja boa, a frigideira nova e quente, a primeira panqueca sempre fica meio esquisita. Então a gente se livra dela logo.
Escrever sobre não conseguir escrever .. viver achando que não tá vivendo ... nem sempre, mas quase sempre é assim. Virtual Hug Jess !!