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Eu nunca fui muito boa em esportes. Na escola, sempre eram as mesmas modalidades (futebol, basquete, vôlei e queimada) e não entendia mesmo por que as pessoas gostavam de fazer aquilo. Fiquei adulta e me rendi à musculação, já que eu sabia que alguma coisa precisava fazer, mas mesmo assim, ainda não estava nem perto da empolgação que eu via tantas pessoas com o simples fato de correr atrás de uma bola ou algo do tipo.
Ano passado fiz uma aula de Muay Thai com a minha cunhada (e personal) e achei incrível. Tinha todo um preparo inicial de cardio, depois sequências de golpes para entender como fazer cada um, seguido de uma luta amigável. Fiquei pensando nessa aula por muito tempo, achava que aquilo fugia muito do meu personagem, mas que eu tinha adorado.
Já em janeiro, como manda a cartilha de resoluções de começo de ano, me matriculei em uma academia que tinha a modalidade luta como opção. Fui na primeira aula e voltei para casa muito cansada, mas surpreendentemente muito feliz também.
Já faz sete meses que pratico Muay Thai com regularidade (no mínimo três vezes por semana) e a cada dia me sinto mais desafiada. Preciso lutar contra o meu fôlego curto de uma pessoa não fumante (mas parece que fumo três maços por dia) a força dos meus punhos, saber manter a guarda alta, a concentração e destreza para decorar a sequência de golpes que o professor passa, saber aparar os golpes do meu colega de aula, os alongamentos e aquecimentos que me fazem fazer coisas que eu jurava impossível.
Claro, lutar também mexe com uma outra coisa que eu nunca pensei: a imprevisibilidade do outro. A gente não consegue saber o que está passando na cabeça do oponente, tudo o que a gente tem é o olho no olho e a avaliação dos seus ímpetos corporais. Também fico pensando na resiliência que é necessária para continuar fazendo as aulas. Tem dias que tenho mais dificuldades para lidar com os exercícios passados, outros são os desafios mentais, também dependendo de quem vai ser minha dupla no dia. É o tipo de aula que desafia o meu controle, já que não tenho nenhum.
Sábado passado aconteceu o coroamento desse meu momento: a graduação de faixa. Acordei cedo, tomei um café reforçado e segui. Chegando lá foram feitos alongamentos, aquecimento, e depois de umas três horas aguardando outras duplas na minha frente, foi a minha vez de entrar no ringue com a minha adversária.
Eu nunca senti o que senti enquanto estava naquele ringue. Primeiro, minha oponente deu chutes fortes e acabou machucando a minha coxa, ela percebeu pela minha expressão e decidiu focar na perna machucada. Levei alguns golpes, dei outros (foquei nas costelas) e no intervalo para o segundo round, meu professor me deu dicas para proteger a perna machucada. Voltei mais forte, prestando mais atenção em qual movimento ela faria, sempre me protegendo. Consegui acertar alguns golpes, mantive a minha guarda alta e me protegi o quanto deu. Sai me sentindo perdedora, já que havia me machucado e ficado sem fôlego nos últimos trinta segundos, mas assim que desci do ringue, abracei meu professor, ouvi os gritos de incentivo do meu namorado, irmã e amigos e me deu vontade de chorar. Não foi um choro triste, e sim um choro de meu deus, eu consegui. Eu fiz algo que eu nunca nem em um milhão de anos imaginei que faria. Eu nunca imaginei que um dia eu desceria de um ringue e pegaria um diploma e uma faixa para colocar no braço. Eu nunca imaginei que chegaria tão longe.
Talvez tudo isso me mostre que eu tenho que abrir a minha guarda para as coisas imprevisíveis da vida. Talvez eu tenha que parar de lutar contra meus demônios internos e guardar mais energia para lutar contra o mundo. Deixar um pouco de lado a posição de algoz e abraçar a de lutadora que pode dar conta dos imprevistos da vida. Talvez eu tenha que aceitar que eu consigo mudar, e muitas vezes para melhor.Episódio novo no ar
Episódio novo no ar
No último episódio do podcast, falei com o tatuador Arthur de Camargo sobre a relação dele com as diversas formas de arte e também com a cidade. Foi muito bom conversar com um amigo de tantos anos sobre coisas que normalmente deixamos passar. Ouça e depois me conta o que achou!
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