Em setembro de 2021, eu estava meio desesperada. Meio não, bastante. Tinha me mudado há menos de seis meses, comprei minha primeira viagem internacional e estava como todo bom freelancer que é um pouco irresponsável, contando com o ovo dentro da galinha. Obviamente tudo deu errado e eu acabei me endividando. O cálculo tava certo, eu só não esperava que eu ficaria sem trabalhar por uns três meses.
O tempo passou, eu me reorganizei, consegui controlar a dívida, os gastos, e voltei a sentir o chão debaixo dos meus pés.
Hoje, um ano depois, eu me encontro no completo oposto: estou trabalhando bastante. Você pode me perguntar “o quão bastante?” e eu te responder “as últimas três semanas não tive fim de semana”.
E o que não te contam sobre a vida de freelancer, é que as ondas de trabalho, misticamente se alinham todas juntas, enquanto você estava há dois meses sem nada. Fora que, além da demanda do trabalho em si, tem também o trabalho invisível; eu sou o meu comercial, o financeiro, o editor, o montador, o atendimento, a prospecção de clientes, a administrativa geral. Ter um negócio (ou ser uma autônoma solitária) tem muitas partes boas e ruins, mas entre elas, tem uma coisa específica ruim que não tem nada a ver com isso: a habilidade de equilibrar os pratinhos.
E eu, ansiosa que sou, tento ser a pessoa perfeita profissionalmente e óbvio, com uma qualidade exímia. E o que eu sempre tento evitar acontece: eu vou me deixando para trás. Eu paro de fazer musculação, pilates, comer bem. Tudo isso ganha espaço para colocar mais trabalho e ter o mínimo de sentimento de controle que eu acho que consigo ter. Mas é claro que sem as duas primeiras coisas ali, eu fico sem energia para poder ter um bom desempenho, para conseguir descansar no fim de semana e voltar regenerada, para sentir que eu estou sendo o melhor que eu posso.
Só que o melhor que eu quero ser não basta para dar conta das coisas que são possíveis naquele momento, eu quero ser perfeita. Eu quero dar conta de todos os freelas, eu quero comer comida feita em casa e pensada com carinho, eu quero continuar na musculação, no pilates, na terapia, encontrando os amigos, dando atenção para o namorado, atenção para os gastos, entregando a newsletter, o meu podcast, casa limpa, roupa, louça lavadas e…eu pifo.
Enquanto fui escrevendo essa lista aí de cima, percebi que poucas coisas não foram feitas, e mesmo assim eu me sinto o ser mais fracassado que eu conheço. Me comparo com mães e pais com rotinas exaustivas, com a enfermeira que ouvi conversando na rua e contando do seu turno de quinze horas. Eu continuo me culpando, procurando buracos para entender onde foi que eu errei. Eu errei?
E eu estou aqui falando dos meus mil pratinhos quebrados, sem falar que esse ano tá sendo um dos mais incríveis profissionalmente. Eu acho que essa ansiedade toda é de ver meu trabalho sendo reconhecido e ganhando a rua, cada dia aparecendo mais pessoas legais para somar.
Eu sei que sou muito dura comigo mesmo, a todo momento eu sinto que se eu errar, não tem volta. Mas por outro lado, nesses momentos difíceis eu pego, anoto tudo o que eu fiz em um dia e me dou um tapinha nas costas. Eu não fiz tudo o que eu gostaria, não fiz da forma que eu gostaria, mas eu fiz. Pra mim esse é um exercício que acredito que vai levar anos pra desenvolver em análise, mas eu estou tentando. Eu estou tentando ser a minha melhor versão - que seja humanamente possível.
Dicas, diquinhas, diconas
Hoje eu quero trazer um podcast que editei semana passada que foi o Discoteca Básica, falando do disco “Dookie” do Green Day. A banda foi o meu primeiro contato com punk rock na infância, quando encontrei o cd no quarto da minha tia, achei a capa super legal e coloquei pra tocar no rádio. Eu não conhecia a história do começo da banda, e fiquei felicíssima em saber que o Billie Joe Armstrong faz parte da sigla LGBTQIAP+.
Também saiu um episódio do Boa Noite Internet maravilhoso fazendo um paralelo da nossa vida com o RPG. A nerdzinha aqui pira.
E por último, não ando ouvindo muita música, mas essa semana coloquei esse disco aqui pra tocar a vitrola:
Mas já?
Hoje, sem nenhuma ironia, estou sem voz e não consegui gravar o texto da newsletter. Mas é aquilo, vamos fazendo o que dá (e vamos de desapego).
Se quiser conversar comigo, pode responder esse e-mail que com certeza eu te mando um oi de volta. Ah, não deixa de compartilhar com os seus amigos na sua rede social favorita.
Nos vemos semana que vem, tchau!
Mesmo sendo CLT e casado (o que ajuda a organizar a nossa vida, divago), eu me sinto igualmente perdido. Mas digo que as coisas tem melhorado bastante depois que voltei a fazer terapia. A gente pensa que não, mas faz um bem danado. Ajuda muito a equilibrar um pouco mais de pratos.
Jess, você resumiu nossa vida em uma newsletter. Empreender e ser freela não é fácil - e creio que o maior desafio está em administrar as ondas de trabalho que vem e vão. Porque que acontece tudo junto? Um mistério que nunca saberemos explicar.