Considere contribuir com R$5 para apoiar a sua criadora de conteúdo local. Assim você incentiva uma escritora a continuar.
Viver em uma sociedade que nos instiga a produzir o tempo todo nos faz esquecer que também temos vontades próprias, e eu acho que o mais preocupante é: a gente esquece que precisa desacelerar.
Adoro falar sobre trabalho e formas de conviver bem com as obrigações do dia a dia, mas como uma pessoa freelancer, eu me coloco em armadilhas inconscientes que são bem difíceis de sair.
Quem trabalha neste regime, sabe que existem tempos das vacas gordas e magras, o mais comum é ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo em contraste com semanas vazias sem perspectiva de novos trabalhos. Para uma ansiosa como eu, isso beira o sentimento de morte e desalento, quase como "acabou para mim". Aí se passam sei lá, duas semanas ou até um mês e surge novamente um projeto gigantesco que vai me fazer trabalhar mais do que meu dia consegue sustentar.
Aí, no momento onde aparecem dois dias mais livres, eu fico com a ansiedade gritando comigo dizendo que eu não sou capaz. Mas sabe o que é engraçado? Politicamente e filosoficamente falando, eu sou completamente contra isso.
Eu sou a favor de dias de descanso. Sou a favor de deitar na rede e acompanhar o dia passar pela posição do sol no meu rosto. O problema é que eu sou assim apenas no campo das ideias, quando eu consigo um tempo no meio dessa rotina caótica de São Paulo pra fazer isso eu entro em parafuso.
Falei dia desses como eu tinha um pensamento meritocrático (e um tanto conservador) comigo mesma quando na contramão sou muito compreensiva e apoiadora dos erros e acertos dos meus amigos. Eu vibro com cada um deles e com cada decisão, aquelas que parecem esquisitas no começo e também quando não dão certo no final. Mas eu não me dou esse voto de confiança, eu não me dou chance de errar.
Mas sabe o que acontece quando a gente se fecha para o erro?
Erramos com nós mesmos.
Me dói o coração entender que eu tenho um caminho muito longo para desconstruir certezas que criei durante toda a minha vida, pequenos pontos de apoio que estão fincados em areia fofa e eu acreditava ser sólido. Eu me apego em coisas que já passaram, meu livro dos arrependimentos vai ficando cada vez mais longo e eu aqui, sei me dar o direito de me perdoar.
Desacelerar vem pra mim de um lugar de amor. Cuidar do nosso corpo em um dia de preguiça, deixá-lo flanar sem destino final, deixar a cabeça passear por coisas boas e deixar um pouquinho de lado o estado de alerta que me mantenho desde os nove anos de idade. Olhar para os gatos brincando, observar os carros passando na avenida em que moro, ficar me perguntando se aquele hambúrguer na rua da academia é gostoso.
Os livros me esperam em pilhas do lado da cama enquanto perco tempo demais nas redes sociais, e acho que de alguma forma esse meu senso de urgência-estou-fazendo-pouco vem daí também. A gente só vê a parte editada dessas vidas, a gente não vê a pausa.
E o tempo brinca o tempo todo com a gente, quando ele passa apressado num momento bom e se arrasta quando esperamos um ônibus na rodoviária lotada. A gente deixa de perceber o nosso próprio tempo, não abrimos espaço para o inesperado, não observamos o nosso descansar.
Essa é semana sim
No episódio da quinzena do podcast Entre um Chocolatinho e Outro falei com o arquiteto, podcaster e artesão Glaudemias sobre os seus hobbies, como ele desperta a criatividade no dia a dia e a sua relação com a espiritualidade. Tá tão legal, vale o play!
E chegamos no fim da temporada de O Alvissareiro, falando do assunto mais quente do momento: inteligência artificial e como estamos sendo afetados por ela. Eu me diverti muito me debruçando em vários temas diferentes durante esse último ano e já estou ansiosa para o próximo!
Por hoje é só
Obrigada por chegar até aqui, e se você gostou do que leu, considere compartilhar nas suas redes sociais e também me contar aqui no substack (ou por e-mail) o que você achou da cartinha.
Você pode me acompanhar nas redes sociais no @jesticacorrea.
Te vejo na semana que vem, até lá.
Mas sabe o que acontece quando a gente se fecha para o erro?
Erramos com nós mesmos.
PÁH.
Eu precisava ler isso. Obrigada.
Totalmente! Me sinto assim tbm! Mas tenho a cada dia trabalhando a cuca pra ficar mais tranquila na maré baixa. Tem funcionado (um pouco)