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Em um dia quente, entram pessoas desconhecidas dentro da minha casa, no meu caos organizado, preparados com caixas de papelão, fitas e plástico bolha, prontos para encaixotar os pertences acumulados de uma vida.
Levo aquelas pessoas nos cômodos que foram destinados a cada um, e começo a perceber como tudo aquilo que acumulei por tanto tempo, não tem importância nenhuma para aquela dupla de estranhos. Penso que se eu decidisse sozinha embalar tudo, levaria três vezes mais tempo, já que me conheço e me imagino segurando cada objeto com olhar saudosista e tentando lembrar em qual momento da vida eu adquiri aquele item.
"De onde eu trouxe essa blusa? E essa agenda? Faz tempo que não tiro o ukulele da capa. Caramba, quantos desses livros eu já li? Tenho que fazer uma limpa nesses boletos antigos. Será que eu vou conseguir me achar na organização dos outros?"
Fui conversando com essas pessoas, tentando entender quais critérios usavam para embalar cada um daqueles itens, sempre levando em consideração o profissionalismo e cuidado que precisam vir antes de qualquer coisa, já que estão lidando com a vida projetada em bens materiais de outras pessoas.
Fiquei pensando em como o que é importante pra mim, pode não ser pra você. Penso em como me preocupo com coisas que nunca passaram na cabeça de alguém próximo, como os meus medos de adolescente não fazem mais sentido hoje em dia. As coisas que são importantes para mim se vestem com roupas de gala mostrando a sua imponência diante da dor dos outros. Tudo o que guardei até aqui não seria o mesmo para alguém que não vive como eu e que não tem os mesmos medos e sonhos. Se nada disso seria o mesmo, porque eu me preocupo tanto com o perene da vida?
Arrumei uma mala de mão com os itens emergenciais que precisaria caso não achasse nada no caos de pilhas e pilhas de caixas. Tinha duas calças, quatro camisetas e minhas maquiagens preferidas. Fiquei me imaginando indo para um lugar desconhecido com a roupa do corpo e aqueles itens que por algum motivo estavam fazendo sentido serem separados por mim. Olhar de fora para algo tão privado, me deu uma ideia de quem eu gostaria de ser, e que, por algum tempo, eu realmente consigo.
Mudança nunca é fácil, mas dependendo da nossa visão, pode ser um portal para olhar para fora e ver o nosso impacto no mundo. O que os objetos dizem sobre nós, as roupas, a forma que tentamos controlar o tempo e os outros, a tentativa de olhar com mais carinho para os nossos erros e acertos.
Juntei em um mesmo canto um colar que acho lindo e é muito especial, com uma calça que fiz uma barra que não ficou tão boa, mas que serviu muito bem. O mal feito e o bem feito, o caos e o organizado, o bonito e o feio, o novo e o quebrado se juntam e dançam a valsa que chamamos de vida.
Episódios novos no ar
Falei com a podcaster, mestre em moda e têxtil pela USP Marina Santa Helena sobre continuar estudando e a importância de dar espaço para as coisas que realmente fazem sentido pra gente e que a vida de alguma forma nos tirou do caminho. Você pode ouvir em todos os players de podcast:
Já no O Alvissareiro, falamos sobre um assunto que anda muito presente na minha vida: alimentação. Focamos no impacto dos ultraprocessados na saúde, rotina e sociedade como um todo:
Por hoje é só
A cartinha de hoje veio realmente do meio das caixas da minha mudança e acabou atrasando uma semana, mas estou aqui! Se você gostou do que leu, me conta nos comentários ou nas redes sociais, é @jesticacorrea em todas elas. Ah, você pode compartilhar a cartinha ou o podcast por aí, assim você ajuda a palavra do chocolatinho chegar mais longe!