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Esses dias enquanto passeava pelas redes sociais, vi mais de uma vez uma galera falando em “matching the energy” ou no português claro “apenas dar o que recebe” e fiquei pensando como eu me relaciono com isso. Qual tipo de pessoa que eu sou? A que dá demais e recebe de menos? A que dá a mesma coisa que recebe ou a que tá em falta com quem se gosta?
Essa pergunta foi um tanto sem graça de responder porque eu sei exatamente a resposta e sei o quanto ela me incomoda. Eu sou a que dá demais. Aquela amiga que tá ali o tempo todo, no dia e na noite, na luz e na sombra, na alegria e na tristeza, ou até uma briga idiota nos separe.
Eu convivo com muitas pessoas diferentes (ainda bem!) e eu sendo uma que pensa demais sobre tudo, sempre tento ler o outro pra entender se o que eu tenho disponível pra dar será pouco ou muito. Costumo errar nessa conta, já que infelizmente não tenho o dom da adivinhação, mesmo que a minha ansiedade tenha certeza que sim. Na minha humilde cabeça, de alguma forma, eu acho que tenho poder de mudar as coisas: um trabalho só não deu certo por minha causa e não porque o outro lado não estava disponível ou tinha seus motivos, os amigos só ficam porque eu sei como fazê-los ficar, mesmo sabendo que ninguém é preso a ninguém e a gente realmente não sabe o que passa na cabeça da outra pessoa.
Um papo um tanto neurótico, mas é o meu neurótico. As minhas neuras nascem de viagens particulares onde em algum lugar de mim me vejo assim tão poderosa.
Mas eu não sou. Eu não consigo prever o futuro.
Prever o outro é mais difícil ainda. A gente pode até conhecer quem convive conosco, mas aquele espaço cerebral com caraminholas próprias, pensamentos sujos, dores existenciais e amores não resolvidos não estão disponíveis para pesquisa. A gente não é uma biblioteca pública, um acervo a céu aberto que o outro pode vir consultar o que quiser.
Mas a gente pode falar com a bibliotecária.
A gente pode perguntar se está tudo bem com ela, se o inferno e o paraíso particular estão em harmonia, se tem algo pegando de mais ou de menos. A gente pode perguntar pra bibliotecária o quanto ela quer receber. Lembre-se, ela não é obrigada a atender a sua demanda, ela precisa pesquisar em seu sistema o que está disponível para retirada ou não.
Mas eu me acho especial demais. Eu acho que consigo adivinhar o que ela pensa, que eu consigo entregar exatamente o que ela quer receber ou dar, mas não é possível. Só ela, dona do próprio sistema pode nos dizer, a gente gostando ou não.
E nós temos o nosso próprio sistema também, sabemos as nossas necessidades, vontades e limites. Sabemos o que podemos receber e dar, o que pode vir e ficar.
Então vou continuar entregando o que eu tenho. Não serei blasé, mas também não vou exagerar e entregar a mais, pode ser que não caiba na vida do outro. O que nos cabe é perguntar, e se não houver resposta, saiba, ela já foi dada.
Chegou por aqui
A editora Fósforo me mandou o novo livro de Camila Sosa Villada “A viagem inútil: Trans/escrita” que é um ensaio autobiográfico onde ela divide histórias familiares e a importância da escrita na sua vida.
Já a editora Aleph me enviou o clássico “RUR” que é uma peça de karel Capek de 1920, que além de ser super atual, é onde aparece pela primeira vez o termo "robô” pra descrever máquinas que fariam o mesmo papel de um ser humano em vários afazeres.
Por hoje é só
Ultimamente não ando conseguindo entregar a newsletter na periodicidade que gostaria, mas fiquei muito feliz de mandar uma no meio de duas semanas bem difíceis por aqui. Obrigada você que me acompanha, que tem paciência e está aqui torcendo por mim.
Você pode me contar o que achou da cartinha pela caixa de comentários do Substack, respondendo o e-mail ou nas redes sociais, é jesticacorrea em todas elas.
Nos vemos na semana que vem!
Eu tbm entrei nessa neura kkk levei pra terapia e tô trabalhando o dizer Não e outras coisas.
Inclusive parar de criar cenários na minha cabeça tentando adivinhar como as pessoas vão lidar e reagir com as coisas